2.4.05

"Tempo-arte"

Cinco e quarenta e cinco. Acordou quinze minutos adiantado, algo pouco costumeiro. Perdeu o sono, apesar da agitação do dia anterior, que assim como todos, terminou com o saciar do desejo de chegar em casa e despir-se, não só do terno calorento e incômodo, mas de todos os problemas. Sem pensar no que fazer com aquele tempo extra, calça os chinelos e vai à cozinha preparar a cafeteira. Segue para a varanda, seu canto preferido da casa. Antes de sentar na rede, decide não ver apenas o rascunho de mundo que a miopia lhe impõe e acomoda os óculos no rosto. Aprecia o horizonte, naqueles poucos minutos fora da correria da rotina. Quanto do que lhe estava adiante ainda não conhecia? Pior! Quanto de tudo aquilo nunca iria conhecer... Rostos, prédios, lugares, culturas... Tantas coisas que apenas estiveram ali, que para ele não passaria de uma simples ilustração.
Pi pi pi pi... pi pi pi pi...
O despertador avisa que está na hora. Hora. Tempo. Numa matemática contraditória, o tempo que ele usaria buscando poder ter o tempo que gostaria. “Tempo-arte”.
Arruma-se e sai para o trabalho.

20.3.05

Você sabe o caminho?

A menina alegre e brincalhona se foi?
Dizem que a maturidade nos mostra as coisas. Pois ela acha o contrário. A vida se encarrega de dar pancadas até criar uma casca dura e esconder todas as expectativas, os sonhos, a inocência. Quando o brilho no olhar não está presente, de que adianta o dinheiro, a comodidade de um bom casamento, a meia felicidade de uma carreira profissional? Ah, mas e daí? Ela já não é mais criança, não pode mais correr atrás de fantasias de menina! Agora encara de frente o mundo de verdade, aquele em que devemos ser resignados, reprimidos e ao mesmo tempo censuradores, enclausurados em nossas próprias emoções.
Ela não deseja ir embora.
Ainda que algumas rasteiras possam lhe arrancar umas lágrimas, o sorriso quase constante continua prevalecendo. Talvez o mundo fosse menos áspero se ninguém esquecesse o caminho da sua terra do nunca.
Não, ela não se foi.
Estávamos procurando no lugar errado.
Onde ela está agora? Só pra quem sabe o caminho...

13.3.05

Mutante, vibrante, criante..

É inexplicável quando em um estalo você percebe que mudou. Tanta gente que tem medo de mudar! Medo de atravessar o rio sem saber se do outro lado a felicidade vai estar mais próxima ou mais distante. Pra mim, toda a metamorfose que acontece se enche de um significado positivo, tal como acrescentar, crescer, criar! É assim que me sinto a cada dia que passa e vejo que nem todos os meus pensamentos são irreconsideráveis, quando sinto que consegui notar coisas que nunca havia notado antes nas mesmas situações, quando me emociono de um modo diferente pela mesma expressão de olhar, quando percebo que ainda posso ser sensível no meio de tanta banalização.
Com esse espírito, sempre aberto a mudanças, que eu parto numa nova fase da minha vida, tão decisiva quanto todas, mas não menos surpreendente a cada segundo, que é exatamente como eu quero que seja. Não me considero instável nem adolescente sem rumo, só busco viver sem conceitos arraigados que me impeçam de olhar em todas as direções. Meus dogmas se foram e creio estar renovada. É assim que quero me sentir pelo resto da minha vida, alguém que sabe mudar, e como a transformação de uma borboleta, para melhor!