2.4.05

"Tempo-arte"

Cinco e quarenta e cinco. Acordou quinze minutos adiantado, algo pouco costumeiro. Perdeu o sono, apesar da agitação do dia anterior, que assim como todos, terminou com o saciar do desejo de chegar em casa e despir-se, não só do terno calorento e incômodo, mas de todos os problemas. Sem pensar no que fazer com aquele tempo extra, calça os chinelos e vai à cozinha preparar a cafeteira. Segue para a varanda, seu canto preferido da casa. Antes de sentar na rede, decide não ver apenas o rascunho de mundo que a miopia lhe impõe e acomoda os óculos no rosto. Aprecia o horizonte, naqueles poucos minutos fora da correria da rotina. Quanto do que lhe estava adiante ainda não conhecia? Pior! Quanto de tudo aquilo nunca iria conhecer... Rostos, prédios, lugares, culturas... Tantas coisas que apenas estiveram ali, que para ele não passaria de uma simples ilustração.
Pi pi pi pi... pi pi pi pi...
O despertador avisa que está na hora. Hora. Tempo. Numa matemática contraditória, o tempo que ele usaria buscando poder ter o tempo que gostaria. “Tempo-arte”.
Arruma-se e sai para o trabalho.