1.12.09

A vontade de silêncio


A escolha pelo jornalismo, na época que a fiz, foi algo quase instintivo. Quando me perguntavam o que eu queria ser, a dúvida era maior do que qualquer vontade, porque a vontade maior era saber tudo do mundo, pra ter muitas histórias pra contar. Meus interesses não pareciam ter uma linha específica, na escola gostava de boa parte das matérias, apesar da queda sempre maior por aquelas que contavam histórias. Mas gostava mais ainda dos professores, daquele conhecimento que parecia inesgotável, da imagem do “mestre”.

 Então veio o estalo. No vestibular, me pareceu que o jornalismo seria a única profissão em que eu poderia aprender esse “tudo” que tanto me intrigava e passar isso adiante. Eu poderia circular por diversas áreas, estar no meio das histórias e com isso aprender sobre elas. Mas, com o passar do tempo, fui percebendo que algo me agoniava, algo não se encaixava com o meu espírito no fazer jornalístico.

 É o barulho. Descobri há pouco tempo o que eu não consigo suportar na profissão. O barulho é ensurdecedor. Se não tomar cuidado, ensurdece a alma. Entre a pressa e a pressão, pressa, pressão, impressão, pressa, pressão... ninguém se escuta! Ninguém escuta a si próprio. É só ruído.

 Meu modo de pensar mudou. Não quero saber tudo. Quero alcançar um conhecimento uno, indivizível. E percebi que o conhecimento não se alcança sem silêncio. Eu tenho sido só ruído, não consigo parar pra me ouvir, não consigo me distanciar dos lugares que gritam todo tempo e ao mesmo tempo não cheguei a uma capacidade de me desligar do exterior por completo, de meditar no caos. Estou em busca dela. Contar histórias ainda é algo que me seduz, mas a expressão é uma questão pra mim. Sinto-me sufocada por muitas vezes querer dizer o indizível, uma intuição, uma força interior, uma energia que circula.

 Pela filosofia, vejo o conhecimento que me aquieta enquanto inquieta (e me tira da inércia de pensamento). Pela arte, escuto muito do que gostaria de dizer. Escuto. Algo em mim escuta. Talvez seja o caminho pro meu contar.

Ainda estou com a cabeça repleta de dúvidas, de deitar e não conseguir dormir, de uma escuridão branca. Mas já diagnostiquei o mal estar. E de onde o desejo escapa. A vontade de silêncio.

Um comentário:

Leonardo Schabbach disse...

Texto legal, sábias palavras. E concordo, sem esse silêncio não há o afastamente necessário para se realmente conhecer. Bela postagem!

Enfim, só para marcar aqui que a leitura foi feia =)